G1 aponta estudos sobre volta às aulas, transmissão e gravidade da doença em crianças

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No dia 1º de março, o portal G1 de notícias apresentou uma reportagem esclarecedora a respeito de um tema que vem divergindo opiniões entre toda a comunidade escolar.

Em setembro, o mesmo portal reuniu sete pontos do que a ciência já sabia sobre a Covid em crianças. As pesquisas apontavam que os pequenos podem contrair o vírus e desenvolver formas graves, mas que esses casos eram raros. Agora, estudos recentes confirmam esses indícios e acrescentam novos dados: crianças transmitem a doença menos do que adultos, escolas não são foco da transmissão e, quando têm surtos, é mais comum que o primeiro caso seja em um professor.

Após consultar mais de 20 artigos recentes de pesquisadores de universidades renomadas, o G1 detalha as principais conclusões, as quais apresentamos abaixo:

Crianças também podem transmitir a Covid, mas menos do que os adultos

Segundo o Centro de Controle de Doenças Europeu (ECDC), “nenhuma evidência foi encontrada” sugerindo que crianças ou cenários educacionais sejam os motivadores principais da transmissão do vírus Sars-CoV-2.

Pesquisas feitas ao longo da pandemia vêm sugerindo que as crianças, apesar de se infectarem e serem capazes de transmitir a Covid para outras crianças e adultos, transmitem menos a doença.

Um estudo publicado em janeiro, na revista “Jama Pediatrics”, mediu as infecções e a presença de anticorpos IgG em crianças e adultos no sudoeste da Alemanha. Entre abril e maio de 2020, os pesquisadores testaram 2.482 crianças com idades entre 1 e 10 anos e o pai ou a mãe de cada criança, num total de 2.482 adultos. A pesquisa foi feita em um período de lockdown, o que significa que as crianças não estavam indo à escola ou a creches. Os principais achados foram os seguintes:

– Houve 14 pares de participantes em que ambos tiveram anticorpos detectados; outros 34 pais que tiveram os anticorpos tinham um filho que não tinha os anticorpos. 

– Oito crianças tiveram os anticorpos detectados sem que o responsável também tivesse.

– Entre 56 famílias que tinham pelo menos uma criança ou pai/mãe com anticorpos detectados para o vírus, a combinação pai/mãe com anticorpos + criança sem anticorpos foi quatro vezes maior do que a combinação pai/mãe sem anticorpos + criança com anticorpos.

Para os cientistas, “a menor soroprevalência do Sars-CoV-2 em crianças pequenas em comparação com seu pai correspondente é uma observação importante, porque indica que é muito improvável que as crianças tenham aumentado o surto de Covid no sudoeste da Alemanha durante o período de investigação. Isso contrasta com outras infecções do trato respiratório, como gripe ou pneumococos, nas quais as crianças podem ter papel de destaque na disseminação da doença”, avaliam.

O infectologista pediátrico e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marcelo Otsuka, alerta que as crianças podem transmitir o coronavírus, mas não são parte grande da cadeia de transmissão.

“Se ela [a criança] voltar para casa com Covid-19, pode passar a doença para um adulto e esse adulto pode desenvolver um caso grave. Só que os estudos não demonstram até o momento que as crianças sejam importantes na transmissão da doença. Mais do que isso, normalmente, quem transmite, quem infecta as crianças, quem transmite para os adultos, são os adultos que estão saindo para a rua”, afirma.

 

Escolas não são principais focos de transmissão, mas há registros de surtos

Uma série de pesquisas vem apontando que as escolas não são o foco de transmissão da Covid – e que fechá-las não traz um grande impacto na evolução da pandemia.

Um estudo publicado na semana passada na revista científica “Jama Pediatrics” apontou que o fechamento de escolas nos Estados Unidos teve menor associação com a evolução da pandemia da Covid do que outras mudanças comportamentais, como adultos passarem menos tempo no trabalho.

Um estudo feito na Austrália e publicado na revista científica “The Lancet” em agosto mostrou que as taxas de transmissão de Sars-CoV-2 foram baixas em ambientes educacionais focados na primeira infância durante a primeira onda. Segundo os pesquisadores, “crianças e professores não contribuíram significativamente para a transmissão de Covid-19”.

“Nossos resultados fornecem evidências de que a transmissão de Sars-CoV-2 em ambientes educacionais pode ser mantida baixa e administrável. Prevemos que as escolas possam ser reabertas de maneira segura, para o bem educacional, social e econômico da comunidade, conforme nos adaptamos para viver com a Covid-19”, dizem os pesquisadores.

 

Reabrir escolas requer cumprimento de medidas como ventilação, distanciamento e uso de máscaras

Especialistas ouvidos pelo G1 apontam, entretanto, que a reabertura das escolas precisa de planejamento.

Em janeiro, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um documento orientando sobre o retorno seguro às escolas. Entre os tópicos, a SBP aponta que é preciso treinar os profissionais, orientar pais e alunos, usar a máscara e preparar os ambientes de ensino, inclusive dando prioridade a espaços ao ar livre (veja todas as recomendações mais abaixo).

A ventilação tem sido reforçada por especialistas como uma das principais medidas, porque o coronavírus é transmissível pelo ar, mas tem sido minimizada por algumas escolas.

A pediatra Débora Miranda, da UFMG, aponta ainda uma outra medida para o retorno às escolas: priorizar as crianças pequenas. Isso porque pesquisas têm mostrado que, quanto menores as crianças, menos elas transmitem o vírus.

Esse padrão começa a mudar na adolescência – quando começa a se assemelhar mais ao dos adultos. Por isso, escolas de ensino médio e faculdades acabam sendo ambientes mais arriscados, segundo a pesquisadora.

Além disso, diz Miranda, as crianças menores tendem a estudar em escolas mais regionalizadas – o que também contribui na questão do transporte público. “A sobrecarga do transporte público é menor, o que conquista tempo para o sistema público de saúde [se adaptar]”, explica.

A professora faz, entretanto, algumas ressalvas ao retorno presencial: “Não se imagina um cenário em que pode colocar um número infinito de crianças dentro da sala. Em Belo Horizonte, primeiro colocaram 12 crianças, depois, 50% da sala. Esse protocolo muda com a condição de transmissão. Para que não aumente o risco não só das crianças, mas dos professores”, afirma.

Existe, ainda, a questão de crianças de grupo de risco ou que moram com pessoas mais velhas. “Quem mora com os avós é para continuar em ensino remoto – muitas vezes o formato possível dessa educação é o ensino híbrido. Uma criança com comorbidade parece ter risco aumentado – essa criança que tem risco específico deve sempre ficar no ensino remoto”, diz Miranda.

Escolas fechadas trazem prejuízos, mas, sem vacina, professores temem risco com aulas presenciais

Uma simulação feita pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV) em novembro do ano passado apontou que, no melhor dos cenários, os alunos do ensino fundamental 2 deixariam de aprender, em 2020, 14% do que aprenderiam em um ano escolar típico. No cenário intermediário, eles deixariam de aprender 34%. No pior dos cenários – em que os alunos não aprenderiam com o ensino remoto – a perda de aprendizado é de 72%.

Conforme o modelo, os alunos do Norte e Nordeste deixariam de aprender mais do que os do Sul e Sudeste.

Outro problema é a estrutura para o ensino à distância. Muitas crianças não têm acesso à internet – prejudicando ou impossibilitando o aprendizado. Dados do IBGE de maio do ano passado apontaram que, entre crianças e jovens de 9 a 17 anos, 71% dos mais pobres que usavam a internet só tinham acesso pelo celular.

 

Novas pesquisas sobre Covid em crianças e síndrome pediátrica rara

Um estudo feito com crianças italianas que passaram pelo pronto-socorro e publicado no American Academy of Pediatrics, em dezembro, apontou que os pequenos raramente apresentam sintomas notáveis da doença. Entretanto, o número baixo de casos graves não significa que as pessoas devem baixar a guarda. “Esses dados não devem diminuir a atenção e preocupação com a Covid-19, pois as crianças podem representar uma fonte de transmissão viral”, dizem os especialistas.

Na pesquisa, feita com 170 crianças, 17% dos pacientes eram assintomáticos, 63% desenvolveram a forma leve, 19% a forma moderada, 1% a forma grave e 1% crítico.

Os cientistas alertaram que Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) merece atenção e deve ser levada em consideração.

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Dados do Ministério da Saúde mostram que o Brasil registrou, de 1º de abril do ano passado até 13 de fevereiro, 736 casos e 46 mortes de crianças e adolescentes pela SIM-P associada à Covid-19.

A SIM-P é uma grande resposta inflamatória, rara, que, em casos graves, pode acometer diversos órgãos e sistemas do corpo e levar à morte: os principais atingidos são o sistema cardiovascular e o trato digestivo, e também há alterações na pele e nas mucosas.

A síndrome vem sendo registrada em uma minoria de crianças atingidas pela Covid ao longo da pandemia, mas também pode ter outras causas.

Fonte: Portal G1